Moro nos momentos que antecedem a melancolia.
No hálito fresco, na pele quentinha, no cabelo recém escovado. Na euforia de viver algo novo. Em uma conversa animada entre um gole e outro de café. No delírio de andar em uma rua movimentada de mãos dadas com o caos, procurando um canto para pousar, para prosear, para descansar as pernas nervosas que, em espasmos, levam longe e para outro lugar.
Vivo ali, no segundo antes do voo. Na última olhada pela janelinha, pés suspensos, a respiração presa, o ar pressurizado, o estranho tentando fazer amizade do meu lado.
Acordo e durmo bem aí, na hora antes da hora certa, na noite anterior à destruição, vejo tudo acontecer de perto e vou embora logo porque meu coração não suporta a permanência pacífica, promissora, pendente.
Reticente porém rápida, a saudade chega mas eu já me vou.
Recuso o sentido.
Recuso sentir.
Melancólica, moro e morro aqui.