Not down on any map

“...it’s not down on any map. True places never are.”

Li isso em uma cópia de Moby Dick que comprei na biblioteca pública de SF por $1, no meu primeiro ano de faculdade. Assim, fora de contexto, lembro de ter achado a frase tão poética, que sublinhei ela, com caneta mesmo. Será que Melville via toda poesia que eu vejo nessa frase tão curta?

Penso nela toda vez que conheço lugares que me tiram o ar, que acendem uma luz na minha alma que, por um motivo ou outro, costumo deixar apagada.
Penso no tanto de lugar que conheci que, apesar de estarem representados de uma forma literal em algum pedaço de papel ou aplicativo qualquer, são “intraduzíveis.” Como coloco um alfinete em cima de tudo o que senti ali, naquele lugar, quando não foi o lugar em si que me causou tudo isso?

Quantos lugares existem dentro de mim, sem endereços exatos. Depois de vivê-los, ouvi-los, senti-los intensamente, posso defini-los com um carimbo no passaporte, porque talvez isso me torne mais “cool”? Lugares de verdade raramente estão em mapas. Uma vez que os conhecemos, os guardamos dentro de nós, juntos com os cheiros, as cores, os sons. Lugares de verdade vivem e morrem em nossa memória. Posso revisitar qualquer cidade agora mesmo, e jamais precisei de mapa para isso.

Lugares de verdade não são lugares, mas sentimentos que despertam em nós vontades que já haviam morrido; que levantam os pelos dos braços, que nos fazem chorar de alegria. Dispenso mapas—a verdade é que há tempos me perco em lugares e eles se perdem em mim. Ando por suas ruas sem rumo certo ou destino final, tiro fotos mentais, sinto medo de não conseguir voltar, mas volto. Penso “Foi lá naquele lugar, ouvindo uma flauta bamboo em um ritual qualquer que senti-me tão feliz que parecia que meu coração iria explodir.” Sei de onde estou falando...não posso apontar exatamente onde foi...mas senta aqui comigo que te conto tudo a respeito.

Te conto sobre as pessoas, a comida, sobre como cantam os pássaros por lá e se é diferente daqui; te conto sobre o que vi, vivi e ouvi.
Não sei bem onde era, porque não estava em nenhum mapa.
Lugares de verdade nunca estão.

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